ENTREVISTA: ROMAN KRZNARIC e a “THE SCHOOL OF LIFE”

 

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Um dos maiores pensadores culturais do momento está no Rio de Janeiro. É  Roman Krznaric, autor do recém-lançado “Como Encontrar o Trabalho da Sua Vida,” (Zahar) e um dos fundadores da “The School of Life”.

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Roman estará no Teatro Tom Jobim, no domingo, para falar sobre Empatia, no Circuito Inaugural de Sermões Seculares do Brasil.

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Jackie de Botton

 

Antes de ser recepcionado por Martha Castilho e Jackie de Botton, para uns drinks com a bela vista do Arpoador, pedi à Jackie que fizesse esta entrevista exclusiva para nossos leitores com Krznaric, para descobrir mais sobre a EMPATIA.

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JACKIE DE BOTTON: Como você começou a se interessar por empatia?

RK: Três coisas aconteceram. A primeira é que quando eu tinha 25 anos eu fui para a Guatemala e trabalhei com refugiados na selva indígena. Eu vi o sofrimento, a pobreza e a violência. Eles tinham que lidar com isso diariamente. Havia uma Guerra civil acontecendo. E eu percebi que precisava entender vidas que eram diferentes da minha. Isso me abriu completamente para a empatia, ver a pobreza e o sofrimento deles.

A segunda coisa foi na época em que eu era Professor Universitária de Ciências Políticas. Há 10 anos eu, de repente percebi, que a maneira que você muda uma sociedade não é mudando a política, ou partidos, ou leis, é mudando relacionamentos. É através de empatia, através de uma conversa por vez, com as pessoas entendendo as outras.

A terceira coisa que aconteceu comigo, foi que um dia, uns 6 ou 7 anos atrás eu estava pensando em como a morte da minha mãe, quando eu tinha 10 anos de idade, me afetou. Eu percebi que depois que ela morreu, eu perdi a minha vida emocional. Eu não conseguia chorar ou amar, ou se preocupar com as pessoas. Então eu percebi que o meu interesse em empatia vinha de eu tentar recuperar o meu eu empático que perdi quando era criança.

 

JB: Como você começou a trabalhar com isso? Foi depois da Guatemala?

RK: O que aconteceu é que quando eu percebi que a sociedade muda através da empatia, e não da política, eu parei de dar aulas na Universidade e decidi me dedicar a estudar empatia. E eu comecei a dirigir uma organização para a OxfordMuse e comecei a fazer projetos práticos para fazer a empatia acontecer, projetos de massa.

Eu organizei refeições de conversas, comecei a colocar 100 empresários sentados diante de 100 sem-tetos, coloquei menus de conversação diante deles com perguntas como: que tipos de amor você vivenciou?; como você gostaria de ser mais corajoso?. E eram conversas de 2 horas, não aquelas de “speed dating”de 2 minutos.

Foi assim que eu comecei a fazer a empatia acontecer, entre pobres e ricos, jovens e velhos, gente de diferentes religiões. Fiz diferentes projetos para testar a empatia no mundo real.

JB: Você consegue sentir a diferença da empatia quando você visita países?

RK: Quando você visita certos países, consegue ver que há alguns lugares em que as pessoas tem empatia baixa e pouca confiança no outro. Você vem para o Brasil, por exemplo, e sente essa abertura emocional. As pessoas querem dividir os pensamentos e sentimentos com o outro, de uma maneira que você não vê em outros países.

Mas, o que a gente sabe é que em todos os países 98% das pessoas tem a capacidade para empatia. Às vezes está um pouco escondido, mas está tudo lá. Todo mundo entende o que é olhar para o mundo através dos olhos de outros pessoas. Todo mundo entende o que é sentir a dor de outra pessoa.

 

JB: Qual é a principal mensagem que você quer que as pessoas levem para casa depois do Sermão Secular de domingo, no Teatro Tom Jobim?

RK: Quando eles saírem do sermão no domingo, o meu grande sonho é que todos decidam, que pelo resto da vida, uma vez por semana, eles terão uma conversa com um estranho, que vá além da conversa superficial e lide com os temas que importam na vida: amores, valores, morte, relacionamentos… Espero que as pessoas se sintam transformadas e sintam que podem começar a fazer experimentos de empatia e a cultivar a curiosidade sobre os estranhos que eles cruzam na rua todos os dias.

JB: Você acredita muito que empatia também é uma questão de hábito. Pode descrever pra gente quais são os principais hábitos?

RK:

1)    Cultive a curiosidade diante dos estranhos.

As pessoas altamente empáticas tem uma curiosidade enorme sobre o outro. Eles conversam, por exemplo, com a pessoa sentada ao lado deles no ônibus, como se tivessem aquela curiosidade de criança, aquela curiosidade que a socidade é tão boa em tirar da gente. Eles acham as outras pessoas mais interessantes do que eles mesmos. O historiador oral Studs Terkel diz: “Não seja um examinador, faça perguntas e mostre interesse”

 2)   Desafie preconceitos e procure coisas em comum

Nós todos temos achismos e sempre colocamos rótulos nas pessoas: “fundamentalista islâmico” “do lar”, entre outros. Isso nos faz deixar de apreciar a particularidade de cada pessoa. As pessoas altamente empáticas procuram passar por cima dos preconceitos e tentam encontrar algo em comum com outros, em vez de segregá-los.

 3)   Tente viver a vida de outra pessoa

As pessoa altamente empáticas desenvolvem a empatia tentando viver a vida de outra pessoa. Como diz o provérbio americano “ande uma milha com o mocassim de uma pessoa, antes de criticar a vida dela”

O George Orwell é a maior inspiração para isso. Ele se vestiu de mendigo e morou junto a eles em Londres, para depois escrever  “Down and Out in Paris and London” e mudar suas crenças, prioridades e relacionamentos.

 4)   Ouça muito e se abra

É necessário, para que você seja uma pessoa altamente empática, que consiga ouvir o outro e tentar entender o que ele está sentindo naquele exato momento, seja um amigo que acabou de ser diagnosticado com câncer, ou o seu companheiro que está bravo por ter que trabalhar até tarde de novo.

Mas, ouvir apenas não é suficiente. Temos que nos fazer vulneráveis, remover as nossas máscaras e revelar os nossos sentimentos para criar um laço com as pessoas.

 5)   Inspirar ações de massa e a mudança social

A empatia também pode ser um fenômeno de massa e pode trazer a mudança social.

As redes sociais tem que aprender a espalhar não apenas informação, mas também conexão empática.

 6)   Desenvolva uma imaginação ambiciosa

Precisamos desenvolver empatia não apenas com pessoas marginalizadas, mas também com pessoas com crenças diferentes das nossas, ou com os nossos ïnimigos”

Se você faz campanha para diminuir o aquecimento global, que tal tentar se colocar no lugar de um executivo de uma petrolífera?

Empatizar com a adversidade também é um caminho para a tolerância social. Foi isso que Ghandi pessou durante os conflitos entre muçulmanos e hindus, que levou à independência da Índia, em 1947, quando ele declarou: “eu sou um muçulmano, eu sou um hindu, eu sou um cristão, eu sou um judeu.”

 

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Roman Krznaric é um pensador cultural e escritor sobre a Arte de Viver. Ele é fundador e professor da The School of Life, conselheiro de organizações como a Oxfam e a ONU, sobre como usar empatia e a conversação para criar uma mudança social. Ele foi eleito pela Observer como um dos melhores filósofos de “lifestyle” do Reino Unido.

Nascido em Sidney e criado em Hong Kong, ele estudou nas Universidades de Oxford, Londres e Essex, onde concluiu seu PHD e foi professor de sociologia e política na Universidade de Cambridge. Durante anos ele foi Diretor da The Oxford Muse, a fundação avant-garde que estimula a coragem e a invenção na vida pessoal, profissional e cultural.

Os seus últimos livros, Sobre a Arte de Viver (Zahar) e Como Encontrar o Trabalho da Sua Vida (Objetiva), já estão à venda no Brasil e foram traduzidos para diversas línguas. O blog dele dedicado a empatia e à arte de viver, Outrospection, é amplamente divulgado mundo afora e o video, feito por ele, “The Power of Outrospection,” já foi visto por de 250 mil pessoas.

Um fanático por tênis, ele já trabalhou de jardineiro e é apaixonado por fazer móveis. Sua maior ambição é criar o primeiro museu de empatia do mundo.

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JACKIE DE BOTTON PARA O 40 FOREVER

AC

 

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