PERIGUETES

 

Isis Valverde que deu um show com sua Suellen em Avenida Brasil

 

Quanta honra para o 40 FOREVER receber novamente a visita ilustre do Professor DEONÍSIO DA SILVA para nos distrair e nos ensinar, com sua cronica maravilhosa e interessante!

Vocês vão adorar, afinal quem ainda não se deparou com uma “periguete” pelo caminho em algum momento da vida?

AC

 

HISTÓRIA DA PALAVRA PERIGUETE

Deonísio da Silva *

Faz alguns anos uma nova palavra entrou para a língua portuguesa. É periguete. E desta vez não veio de um dos berços habituais mais férteis, a cidade do Rio de Janeiro, especialmente suas praias e bairros, em particular Ipanema.

 

Praia de Ipanema: terreno fértil para novas palavras e gírias

 

Dos poucos dicionários que já a registram, nenhum dá a origem, ainda que resumida. O verbete poderia ter a seguinte redação:

Periguete. Substantivo feminino. 1. Mulher que se veste de maneira sensual, chamando a atenção por revelar sem pudor os contornos do corpo. 2. Aquela que não tendo namorado fixo, procura homens, sejam solteiros ou casados, para um caso rápido, sem compromisso. Da gíria de Salvador, na Bahia, adaptação do Português peri(go) e do Inglês girl. Peri(gosa) girl, depois peri girl e por fim periguete.

 

Salvador, onde os baianos, numa “fusão” peculiar, que mistura portugues e ingles, criaram o termo que pegou no Brasil todo! AC

 

Das metrópoles que mais influenciam a vida nacional, a cidade do Rio de Janeiro é a mais pródiga em fornecer novas palavras e expressões, desde os tempos em que, no alvorecer do século XIX, o rei Dom João VI fixou aqui as cortes portuguesas e sua numerosa comitiva, mudando a capital de Salvador para o Rio.

 

No século seguinte, a transferência da capital para Brasília não tirou do Rio essa supremacia cultural, que hoje divide com São Paulo, não com Brasília. Os cariocas, usualmente irreverentes e bem-humorados, encarregam-se de bater os tambores da pátria, fazendo de sua cidade e de seus bairros as principais caixas de ressonância do Brasil.

 

 

Nascidas na praia e depois levadas à televisão, especialmente à novela das oito, as novas palavras e expressões se espalham por todo o território nacional. A principal disseminadora é a TV Globo, como antes era a Rádio Nacional.

Antes de vir para o Rio, de onde se alastrou para todos os Estados, periguete surgiu nos bairros de Salvador, na Bahia, que, por ser cidade eminentemente turística, sofre grande influência do inglês.

 

E tem as periguetes “disfarçadas”, mais perigo ainda!!!!

 

Para as mulheres, periguete é aquela piranha que olha para seu marido ou namorado, pronta a desfrutá-lo. E ela só o quer por um dia! Para os homens, a ancestral da periguete, moça bonita, de roupas, gestos e modos sensuais, foi antecipada nos versos de Chico Buarque, gravados também por Gal Costa, na voz de quem ficava mais convincente a transformação da mulher, que deixava de ser coisa para coisificar o homem: “Se acaso me quiseres,/ Sou dessas mulheres/ Que só dizem sim/ Por uma coisa à toa/ Uma noitada boa/ Um cinema ou botequim/ E, se tiveres renda/ Aceito uma prenda,/ Qualquer coisa assim.(…) Mas na manhã seguinte/ Não conta até vinte:/ Te afasta de mim,/ Pois já não vales nada,/ És página virada,/ Descartada do meu folhetim.”

 

As Frenéticas deram outro colorido aos versos de Chico Buarque: “Eu sei que eu sou/ Bonita e gostosa/ E sei que você/ Me olha e me quer/ Eu sou uma fera/ De pele macia/ Cuidado garoto!/ Eu sou perigosa…” Ao contrário dos homens, a mulher, talvez por instinto materno, nela inarredável, quer proteger a vítima e reitera os avisos: “Eu tenho um veneno/ No doce da boca/ Eu tenho um demônio / Guardado no peito/ Eu tenho uma faca/ No brilho dos olhos/ Eu tenho uma louca/ Dentro de mim…”

A perigosa tornou-se periguete. As palavras, como árvores e dentes, têm raízes. Algumas são muito profundas e é preciso pesquisar para encontrá-las. Desde meus verdes anos aplico-me a esse trabalho encantador!

 

 

*Deonísio da Silva, escritor e professor, Doutor em Letras pela USP, é Vice-reitor de Extensão da Universidade Estácio de Sá, no Rio. Seus livros de referência nesses assuntos são De onde vêm as palavras, A vida íntima das frases, A língua nossa de cada dia. Faz coluna semanal de Etimologia na revista CARAS.

 

AC

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