Quando soube, no começo deste ano, da odisséia que dois amigos aficcionados pela boa mesa tinham passado até provar o tempero do chef mexicano César Ramirez, depois de meses em lista de espera para sentar no primeiro 3 estrelas Michelin novaiorquino, fora de Manhattan, convoquei minha “personal concierge”, Solange Marchesini, ou melhor, Maria TM transmutada, e desafiei: duvido que você consiga reservar para julho…
Nunca ganho estas apostas pois lá veio ela, dias depois, com a confirmação: tudo certo para minha experiência na “Chef’s Table at Brooklyn Fare” (e no caminho tive que procurar uma sandália muito mais difícil que a reserva; este era o trato), no dia 30 de julho, às 9:30 pm. Nem ousei murmurar um aí sobre o horário, estava feliz com meu passaporte carimbado rumo ao Olimpo gastronômico do Brooklyn.
Chegamos com uma certa dificuldade, tantas as portas com o mesmo número 200 na Schermerhorn St, mas isto ficou esquecido depois que entramos na sala que abriga a moderna cozinha de Ramirez, lindamente circundada por um bar de aço escovado, em forma de D, acompanhado de 18 cadeiras, que fazem as honras da casa e atuam como uma “tavolona”: eis o ambiente que resume o restaurante e que por si só é um luxo!
Sentamos, meio acanhados, pois terminava o primeiro turno de clientes e ficamos com a nítida sensação de termos invadido a praia alheia. Mas, num piscar de olhos, a pátria é salva pelo gentilíssimo chef que vem nos dar as boas vindas e nos oferece um copo de água. Ufaaa, à partir daí o gelo foi derretendo até, no final da noite, estarmos todos os 18 felizardos à mesa de César Ramirez inteiramente entrosados, recitando uníssonos odes à grande arte do chef: ele realmente as merece.
Como um diretor de espetáculo, Ramirez está o tempo todo presente na cozinha/restaurante, conduzindo seus atores/cozinheiros que preparam a base de cada um dos 20 pratos que compõem seu cardápio, para ele finalizar com seu toque de star. É uma experiência única este show na frente dos clientes. Me senti, pela primeira vez, fazendo parte de um maravilhoso enredo gastronômico, onde todos são importantes mas a grande reverência é dada, finalmente, pra quem a merece: comida do chef… Bravo!!!
Ah, detalhe preocupante: César contou-nos que em breve estará de mudança pra Manhattan, tomara que tudo que descrevi acima vá junto.
Na “Chef’s Table” o que se serve é aos bocados, com nítida influência japonesa (na comida e também no ambiente, tipo sushi bar) e toques da cozinha francesa, acomodados em pratos que parecem terem sido feitos exclusivamente para a ocasião, ingredientes fresquíssimos tratados com muita técnica e requinte apesar da aparência simples, evocando Van der Rohe e seu menos que é mais. E por lá, é muuuiitooo mais! BN
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