Minha assinatura de ballet anual, do Teatro Municipal, encerrava com “Carmen”, estrelado pela Compañia Antonio Gades, do meu bailarino preferido, junto com Nureyev (não tenho idade pra Nijinsky), e pela primeira vez eu ia vê-la, depois que Antonio partiu.
Me dei todas as desculpas plausíveis para fazer”forfait”, pois sou péssima pra lidar com perdas: Fiz corpo mole pra chegar com as portas “cerradas “, relutei no foyer sem entrar no teatro, analisando o corpo de baile atual e perguntando aos amigos passantes se valia o meu domingo, pensei nas duas amigas que amo e que me convidaram pra almoçar, até que ouvi a campainha soar para o início do espetáculo e obedeci, como um zumbi!
É que a Andaluzia ruge forte na minha existência e o seu chamado é uma ordem: Vai que fui uma cigana sevilhana em alguma encarnação pois, simplesmente, adoro aquele lugar. Parado no tempo, meio sonho meio realidade, o sul espanhol capturou a passagem do maravilhoso povo árabe por lá e a perpetuou com a competência que eles não tiveram em seus pr’prios países. E quanto há pra ver e por ver: já me perdi por lá, algumas vezes, e sempre voltei com uma nova descoberta! Noves fora a Catedral de Córdoba, o deslumbrante Alhambra, os “Reales Alcázares”sevilhanos, só pra citar três ícones entre muitas preciosidades.
Mas voltando à dança de tablado, pra quem nunca foi pr’aquelas bandas, ela é o samba local, guardando as proporções: Nascida nas tradições populares das culturas cigana, moura e judaica, que conviveram na região andaluz na época do domínio árabe, ela se caracteriza por reunir lindas canções executadas, com maestria, por cantores de vozes guturais, mais o som arrebatador de guitarras, e os dois somados oferecem ritmo à dança sapateada, acompanhada de batida de palmas: Tudo isto somado é a dança flamenca e resulta num efeito único e de tirar o fôlego!
Antônio Gades e sua Companhia ajudaram a difundir esta dança típica espanhola, mundo afora, e algumas vezes vieram ao Brasil. A primeira vez que os vi, no Teatro Nacional de BSB, apresentando a coreografia Andaluzia foi, simplesmente, inesquecível! Ontem, não senti o mesmo impacto, o de estar diante de uma obra prima. Mas também a coreografia Carmen não está distante de qualquer espetáculo de qualidade, que vemos quando visitamos a Espanha. Deu muito bem pra matar as saudades flamencas, só Antonio Gades é insubstituível! BN
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